quarta-feira, 11 de julho de 2018

Salário é principal causa da desigualdade, diz estudo

Salário é principal causa da desigualdade, diz estudo


É a diferença de salários pagos para ricos e pobres no mercado de trabalho, e não o desemprego elevado, a principal causa da desigualdade brasileira. A conclusão é de um estudo do economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ricardo Paes de Barros que foi apresentado ontem em sessão plenária do 14º encontro da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais), que acontece em Caxambu (MG).
O estudo mostra também que, para reduzir a extrema pobreza no país, é mais eficiente diminuir a desigualdade do que gerar apenas crescimento econômico, e que a maior parte das diferenças existentes no mercado de trabalho são apenas reveladas a partir da desigualdade educacional, e não geradas por ele.
"O principal problema da população mais pobre não é falta de emprego, mas excesso de trabalho mal-remunerado. Atacar o problema do desemprego é muito mais importante para São Paulo do que para o interior do Maranhão", afirmou Paes de Barros.
O economista fez análise dos fatores que mais explicam a desigualdade brasileira, medida pela renda familiar per capita. O fator que mais contribui diretamente para a desigualdade, segundo o estudo, é a remuneração do trabalho, que explica 61% da desigualdade. O desemprego, segundo o economista, é responsável por apenas 5% dessa desigualdade.
Para chegar a essas conclusões, Paes de Barros calculou como seria a renda per capita familiar caso não houvesse diferença, por exemplo, na porcentagem de adultos que trabalhavam em cada família. Com isso, foi possível verificar em quanto seria alterado, nesse caso, o quadro de desigualdade no país caso não houvesse nenhuma diferença no acesso ao emprego entre ricos e pobres. O mesmo exercício foi feito para os outros fatores.
Além de detectar as causas da desigualdade, o estudo analisou também como elas apareciam no mercado de trabalho. A diferença nos salários pagos para ricos e pobres pode ser um efeito da discriminação (apesar da mesma qualificação e capacidade, duas pessoas recebem salários diferentes) ou explicada pela diferença na escolaridade (uma pessoa com nível superior recebe um salário maior do que um analfabeto).
O estudo chegou à conclusão de que 45% da desigualdade de remuneração é explicado por fatores que são apenas revelados pelo mercado de trabalho, ou seja, o empregador apenas paga melhor a um empregado porque ele tem escolaridade melhor do que outro que recebe menos. Em 25% dos casos, o que determina a diferença no rendimento são fatores gerados pelo mercado de trabalho, ou seja, podem ser fruto do preconceito já que não são explicados pela diferença na capacidade. Em 30% dos casos, não foi possível detectar as causas.
"A desigualdade de renda no Brasil é muito mais revelada pelo mercado de trabalho do que propriamente gerada por ele", diz.
Segundo o economista, apesar de a discriminação, racial ou de gênero, ser um fator que existe e que deve ser combatido, tem pouca influência no cálculo da desigualdade brasileira. "A discriminação é mais um problema qualitativo do que quantitativo."
No estudo, Paes de Barros fez simulações para avaliar estratégias para diminuir em cinco pontos percentuais o número de brasileiros na linha de extrema pobreza. Se o nível de desigualdade não for alterado, o estudo mostra que será necessário crescimento da renda per capita de 3% ao ano nos próximos dez anos. Essa mesma redução, diz o estudo, poderia ser alcançada caso o nível de desigualdade (medido pelo Índice de Gini, fórmula internacional utilizada para comparar a desigualdade entre os países) caísse 4,5%.
"Embora qualquer redução no grau de pobreza possa sempre ser alcançada exclusivamente com base no crescimento, pequenas reduções no grau de desigualdade podem encurtar muito o tempo necessário", diz.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2209200418.htm

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